O trecho acima pertence ao filme Lola, de Andrew Legge. Faz exatamente um ano que pesquei essa dica com o J.M. Straczynski. Como de praxe, adicionei na minha “lista” no Romênia + e por lá continuou até agorinha, em março de 2025. O meu interesse pelo mesmo foi subitamente ressuscitado quando vi amigos compartilhando o trailer de um tal de “A Máquina do Tempo”, que acabava de ser lançado nos cinemas brasileiros.
Para minha surpresa, trata-se do mesmo Lola que continuava sendo solenemente ignorado por mim. Corrigi isso em dois tempos, e já posso bater no peito que, para variar, o título nacional é genérico e não corresponde ao que de fato é o mecanismo "Lola". Quer dizer, o dispositivo criado pelas irmãs Hanbury – e batizado em homenagem a mãe – nada tem a ver com viagens temporais[1]. Muito pelo contrário, a tecnologia criada por Thomasina (Emma Appleton) e Martha (Stefanie Martini) no final dos anos 1930, tem como particularidade o fato de ser capaz de sintonizar sinais de rádio/televisão transmitidos do futuro.
Daí, o que as simpáticas irmãs fazem com isso? O que qualquer um faria: enriquecer com jogos de loteria e bisbilhotar a produção cultural de décadas a frente. Tudo ia muito bem para as Hanbury até o fatídico dia em que Adolf Hitler aconteceu e a Inglaterra passou a amargar duras derrotas no princípio da 2ª Guerra Mundial. Imaginando que poderiam mudar o curso do conflito e salvar milhares de vidas, sob o pseudônimo de “O Anjo de Portobello”, elas passam a fornecer dicas anônimas à inteligência militar sobre ataques e operações nazistas.
Chega-se
a um ponto em que as previsões começam a mudar o rumo da guerra, e com ela o próprio
futuro do qual já conheciam. Está instalado um efeito borboleta que leva às
favas qualquer senso de previsibilidade anterior, e junto com ele, figuras
notáveis como David Bowie, Stanley Kubrick e vários outros. Sem falar que o
próprio nazifascismo torna-se um animal diferente.
Lola é curtinho. Tem nem 1h20min de duração e, quem diria, dá um trato daqueles na técnica batida do found footage. É que as irmãs registram seu cotidiano e todos os momentos que levarão ao clímax da história por meio de câmeras de 16 mm, como a Bolex e a Arriflex, equipadas com lentes do período. Já as cenas que simulam cinejornais da época foram capturadas com uma câmera Newman Sinclair de 35 mm, fabricada na década de 1930, usando filme Kodak Double X.
É um lance deveras criativo, que faz horrores pela imersão e autenticidade. Fino!
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Após
assistir ao 4º episódio de Demolidor
Renascido, tive a leve impressão que o Justiceiro repetirá a façanha da 2ª
temporada da série original e ditará os rumos da história. Ora bolas, já estava
ditando sem sequer aparecer, não acha?
Estou falando da banda podre da polícia nova-iorquina, adotando o memento mori de Frank Castle (Jon Bernthal) como inspiração leviana para seu “servir e proteger”. O tema, por sinal, atormenta a Marvel/Disney e não é de hoje. Se por um lado, a caveira estilizada já era uma iconografia cotidiana no exército norte-americano, com a autobiografia de Chris Kyle, o Sniper Americano, fica nítido que ela virou algo maior que o personagem. Uma ideia:
"- Nosso operador de comunicações sugeriu isso antes do destacamento. Todos nós achávamos que o que o Justiceiro fazia era incrível: ele corrigia injustiças. Ele matava caras maus. Ele fazia os malfeitores temê-lo. Era exatamente isso que representávamos. Então, adotamos o símbolo dele — um crânio — e o transformamos em algo nosso, com algumas modificações. Pintamos com spray em nossos Hummers, em nossos coletes balísticos, capacetes e em todas as nossas armas. E pintamos com spray em cada prédio ou muro que pudemos. Queríamos que as pessoas soubessem: estamos aqui e vamos acabar com vocês. Era a nossa versão de guerra psicológica. Estão vendo a gente? Somos os caras que estão detonando vocês. Temam-nos. Porque nós vamos matar vocês, seus filhos da puta. Vocês são maus — nós somos piores."
Piora quando Jon Bernthal passa a ser cobrado a dar esclarecimentos sobre fotos de manifestantes na invasão do Capitólio em 6 de janeiro (de 2021), usando a logomarca. Gerry Conway, cocriador do Justiceiro, chegou a dizer sobre policiais flagrados estampando-a em viaturas e/ou equipamentos:
“- Por definição, ele é o oposto do que eles deveriam ser, sabe? Ele é alguém que está fora da lei tomando a lei em suas próprias mãos. Então, se eles estão reivindicando o Justiceiro como seu símbolo, eles estão dizendo que são foras-da-lei e que eles são criminosos e que eles são inimigos da sociedade. É realmente isso que eles querem dizer? [...] Quero negar à polícia, à milícia e aos militares a oportunidade de usar isso como um símbolo de opressão. [...] A Disney sabe que isso é radioativo. Eles vão deixá-lo desaparecer. O que para mim é uma vergonha."[2]
Entretanto, acho que ninguém foi tão contundente e literal num contraponto quanto foi a dupla Matthew Rosenberg e Szymon Kudranski em The Punisher nº 13/2018 (ou Justiceiro, Vol. 3: Rua a Rua, Quadra a Quadra):
O que estou pensando: a Marvel/Disney está
com a
caveira bola na mão. O que quer que será do Justiceiro daqui para frente, virá do que estão
planejando nos próximos episódios de Demolidor. Creio que a sequência acima tem
boas chances de ser adaptada para a telinha, porém minha inquietação é outra.
Me pergunto se o velho Frank terá munição suficiente para abrir caminho nos
corações & mentes de tanta gente besta,
deixar para trás os cafundós de Mefisto e, por fim, ter de volta um lugar no Universo 616.
A conferir.
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Links Afiliados
[1] Se fosse para arriscar uma referência pop dessa “máquina do tempo”, eu iria de Alta Frequência.
[2] Vire e mexe, Conway é instado a se manifestar sobre a apropriação da caveira do Justiceiro. Para fins desse texto, capturei excertos de matérias na Forbes e no CBR. Por outro lado, nunca vi o Garth Ennis falando a respeito, mas imagino que em Justiceiro MAX nº 49 (O Fazedor de Viúvas), o irlandês disse tudo em uma página só.