segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O TRIUNFO DE SUE

Relutei um pouco em assistir A Substância (The Substance, 2024). Em algum momento do ano passado, o filme virou assunto nos meus círculos, fora a onipresença nas redes sociais via Gifs e Memes. Porém, o fato de ter visualizado - contra a minha vontade - cenas de gore e a óbvia percepção que se tratava de um body horror, me tiraram do caminho tortuoso percorrido por Elisabeth Sparkle (Demi Moore).

Nunca me dei bem com o subgênero, a despeito de apreciar a visceralidade do cinema de David Cronenberg. Com a indicação ao Oscar na categoria melhor filme, fiquei genuinamente curioso e decidi me submeter a tal experiência tão alardeada no enredo de Coralie Fargeat. Na trama, a personagem de Moore é uma estrela de um tradicional programa de ginástica na TV, tão conhecida no meio que seu nome foi adicionado à Calçada da Fama.

O problema é que os índices de audiência andam em baixa e o produtor (Dennis Quaid, asqueroso em cada frame) bota isso na conta da idade de Sparkle. Para o executivo, ela estaria velha e era hora de procurar uma substituta mais jovem. Demitida, Sparkle se via agora na rua da amargura, tendo que aceitar a aposentadoria forçada, até o dia em que recebe anonimamente o convite para participar de um experimento.

Ela injetaria uma substância ativadora que, a partir de sua coluna cervical, daria origem ao que parecia ser uma versão jovem de si mesma. A ideia era que, como "Matriz", Sparkle trocaria de lugar com seu outro Eu em rodízios rigorosamente pré-determinados. Enquanto uma hibernava, a outra assumiria. No caso de "Sue" (Margaret Qualley) - o Eu mais jovem -, em segredo, decide competir pelo lugar de Sparkle na TV e não só consegue, como passa a ser a nova queiridinha do canal.

Em dado momento, quando o revezamento começa a dar errado - especialmente para Sparkle -, a subjetividade entra em cena e te leva a questionar se as duas realmente são a mesma pessoa, ou melhor, uma só pessoa diante de um worst case scenario de autossabotagem.

Moore e Qualley estão impossíveis em atuações com mais fisicalidade do que trocas intensas de diálogos. São silêncios, por vezes, incômodos e uma sexualidade propositalmente fútil; essa última reforçada pelo close-up extremo da câmera da diretora Fargeat. O clímax de A Substância é difícil de assistir e se tiveres uma resistência ao body horror parecida com a minha, te adianto que serão vinte minutos de pura agonia.

Uma agonia que, acredito, deve ser catártica para os fãs desse tipo de horror. Por último, me surpreende (positivamente) a Academia[1] trocar seu arroz com feijão básico pelos sabores fortes desse baião de dois & queijo gorgonzola.



[1] Atualizado após o Oscar 2025: das três indicações a que concorreu, entre melhor filme, atriz e maquiagem & cabelo, o único êxito foi na última. O que, confesso, foi uma surpresa. Imaginava que essa categoria seria batata para Nosferatu, porém, a produção de Robert Eggers saiu de mãos abanando. Já Moore tinha um páreo duro com Fernanda Torres e Mikey Madison; o que não diminui nem um pouco o impacto do plot twist, vendo a jovem Su-- Anora abocanhando a estatueta das veteranas.

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