No último sábado [5/12], eu, o Luwig, tive o prazer de gravar ao lado de Mauro Ellovitch, Maurício Dantas e Alan Farias o programa que encerra os dez arcos clássicos de Garth Ennis em Justiceiro MAX. O que quero dizer com isso? Quero dizer que além de pautarmos e papearmos sobre os prelúdios O Pelotão [The Platoon/2017] e Nascido para Matar [Born/2003], passamos a limpo todas as sessenta edições da série regular; publicadas originalmente entre 2004 e 2008.
Esse esforço começou em agosto de 2018, fora d’Os Escapistas, inicialmente com o Reginaldo Yeoman a bordo. O programa em questão foi reeditado e entrou no nosso feed com a estrutura que seguiria até o fim. Como disse, inicialmente, fomos ao encontro das duas histórias de guerra; depois a referida reedição com No Princípio e Inferno Irlandês; a seguir, adotamos os recortes dos encadernados Marvel Deluxe no terceiro podcast com Mãe Rússia e o quarto, Barracuda. O quinto que logo mais deve chegar ao seu agregador terá a minissérie solo do Barracuda e as duas últimas sagas, A Longa e Fria Escuridão e Vale Forge[1].
Pessoalmente, é mais um sonho podcaster realizado. “Como assim?”, isso de pegar um gibi longo e destrinchá-lo completamente, quase como microsséries, antologias com início, meio e fim dentro do caos controlado d’Os Escapistas. Tem mais sonhos de onde vieram esses e, aos poucos, tenho certeza que iremos realizá-los.
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Coincidentemente, nesse mesmo fim de semana foi exibida na CCXP Worlds uma entrevista do Garth Ennis concedida ao crítico de cinema e leitor de quadrinhos Roberto Sadovski. Gostaria de ter assistido na íntegra, mas confesso que não tive paciência com as tecnicalidades [e instabilidades] para acessar aos conteúdos do evento. Nem gratuitamente ou tampouco pagando pelos mesmos, mas creio eu que alguns dos fragmentos sobre o Frank, transcritos lá nos inomináveis, foram o bastante para saciar minha curiosidade:
[…] “o autor [Garth Ennis] revelou que o Justiceiro da Marvel Max foi uma das HQs mais ‘recompensadoras’ de sua carreira, e que até hoje sente um prazer sombrio em voltar a criar histórias do personagem. ‘Posso escrever sobre esse lado da vida real que você não pode abordar em outros super-heróis, como em outros quadrinhos da Marvel'”.
Vivemos um momento de escassez de boas ideias nos quadrinhos mainstream. Afinal, ninguém mais parece interessado em maturar um argumento sagaz e correr o risco de vê-lo transposto para outra mídia mais rentável; da qual, se tiver sorte, talvez receba um cheque simbólico como agradecimento. No mais das vezes, o criador sequer recebe uma tapinha nas costas. Por que estou dizendo isso? Porque acredito que o Garth Ennis possui nome, bibliografia e conta bancária[2] que lhe permitiriam subsidiar eloquentes “nãos” a trabalhos na Marvel ou DC, e explorar suas criações artísticas em gibis autorais. Quer dizer, qual seria o empecilho para Ennis forjar um Frank Castle genérico e ser o proprietário comercial e ideológico de seus caminhos? O Jeff Lemire criou Black Hammer, um universo bem qualquer nota só de farsantes, e isso já vai lhe render alguns fruto$.
Hoje em dia, são raríssimos os criativos com carreiras consolidadas que queimam plots originais nas majors. Se muito, retornam com histórias burocráticas, com apelo suficiente para manter-se em evidência junto ao grande público. A galinha dos ovos de ouro, contudo, fica guardadinha em casa. Então, esse amor do Ennis pelo Frank pode ser comparado, por exemplo, ao que Dan Slott teve na sua década de Homem-Aranha; que, sem poupar fluido de teia, rendeu a linha guia que ganhou Oscar e desencadeou todo .
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Como o próprio Ennis falou lá em cima, ele sente um prazer sombrio em escrever o Justiceiro e eu, como leitor, fico sombriamente satisfeito em lê-las. Posto isso, já li a minissérie Soviético, com arte de Jacen Burrows (Providence), e garanto que é outro gibizaço. Nessa história, Frank lida com um mafioso russo que estava às vias de se retirar do crime organizado, legalizando seus empreendimentos. Na verdade, ele só percebe os movimentos desse criminoso depois que, por acaso, topa com uma pilha de capangas mortos. Todos os assassinatos têm assinatura e eficiência militar, exceto que não foram de autoria dele.
É nesse ponto que ele conhece Valery Stepanovich, um ex-soldado soviético, veterano da Guerra do Afeganistão. Alguém com um passado estranhamente simétrico ao de Frank Castle e o que move esse irmão de armas acabará unindo os dois num objetivo comum. Eis aí uma “linda” história de amizade.
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“Atualmente, o escritor trabalha em Get Fury, nova aventura do vigilante. Questionado sobre o projeto, Ennis fez mistério: ‘Não posso falar muito sobre isso porque estamos nos estágios iniciais. Já escrevi a história, mas com muitos títulos da Marvel sendo suspensos este ano por causa da pandemia, só conseguimos voltar a trabalhar nisso agora. Mas tudo vai bem, você poderá ler até o final do próximo ano'”.
Se o Slott não poupava teia, ao que parece o Ennis ainda tem muitos pentes de balas para o Justiceiro. E Get Fury será a saraivada da vez. Pelo que apurei por aí, a história voltará ao Vietnã, só que na segunda passagem [de três] de Frank como fuzileiro de reconhecimento. Trata-se de um período intermediário às histórias de O Pelotão e Nascido para Matar, retratado rapidamente em Fury MAX: My War Gone By - numa tradução livre, Minha Guerra Se Foi - e, claro, no arco Vale Forge.
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“Ennis relembra que sua intenção era realmente criar histórias de crime que deixassem o Justiceiro no lugar em que ele pertence. O roteirista elogiou [Leandro] Fernández, que, em sua opinião, fez um trabalho admirável ao desenhar grandes histórias, incluindo Os Escravistas, arco que o autor irlandês guarda com muito carinho. ‘Para muitas pessoas, e eu incluso, é a história definitiva da HQ Justiceiro Max. Nela, levei o personagem em uma jornada ainda mais sombria do que havia feito antes'”.
Desconhecia essa informação, de que Os Escravistas era o arco favorito do Ennis. Quer saber quais são os nossos favoritos? Ouça(m) nossos podcasts sobre o Justiceiro MAX!
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[1] Além de compilar o arco homônimo, Mãe Rússia trazia também consigo A Volta dos que Não Foram e Os Escravistas. Enquanto que o Volume 3 vinha com Barracuda – que dá nome ao encadernado -, Homem de Pedra e O Fazedor de Viúvas.
[2] Lembre-se: Preacher e The Boys foram adaptados para a televisão. Logo, é razoável supor que alguns bons milhões devem ter entrado no seu caixa, concorda comigo?