quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O VENENO DE MAX CADY

Por volta dos 36min de Cabo do Medo (Cape Fear, 1991), existe um frame do ex-presidiário Max Cady que sempre via reproduzido em casting calls de fãs, elegendo o ator Robert De Niro como uma caracterização perfeita do anti-herói Wolverine. Se você tocar o play nesse exato momento, não tenho dúvidas que terá náuseas e ficará horrorizado com a mera sugestão de que alguém cogitou que o (honrado) Logan poderia habitar aquela pele.

No enredo, após 14 anos, Max deixou a penitenciária e está decidido a transformar em um inferno a vida de Sam Bowden (Nick Nolte), o defensor público que o representou à época da condenação. É que durante o julgamento, o réu respondia pela acusação de estupro e Sam deliberadamente ignorou uma dica importante que poderia tê-lo inocentado. Porém, não era a percepção do defensor e, como veremos no filme, por mais antiético que parecesse aquilo, no fim, Sam pode ter feito algum bem ali. Por outro lado, enquanto cumpria pena, Max afirma que transcendeu através da dor e do conhecimento, sendo ele próprio vítima de estupros e, outrora analfabeto, encontrou o dom da erudição nos livros (e quadrinhos!); fora a transformação do corpo, levando-o a cultivar músculos e tatuagens com mensagens alusivas à vingança que se dedicaria.

Mais que física, a retribuição de Max é psicológica, a princípio, tornando-se um stalker e depois uma sombra constante no cotidiano da família Bowden. No lado da direção, Martin Scorsese parece evocar a imagética opressiva e sonora do cinema hitchcockiano e, se me permite a indiscrição, com algumas pitadinhas de Sam Raimi na mistura.

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O tema de Bernard Herrmann é o prelúdio magistral desse pesadelo.

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Consultando os vencedores do Oscar de melhor ator, creio que em qualquer ano, De Niro teria levado a estatueta com uma mão nas costas, mas, em 1992, ele tinha pela frente ninguém menos que Anthony Hopkins e seu imbatível Dr. Lecter. Com Cabo do Medo quentinho na cachola, não deixo de imaginar que se o resultado tivesse sido diferente, também não seria nenhuma injustiça. Era apenas uma questão de "escolha o seu veneno".

No caso de Max Cady, um veneno bem forte.

3 comentários:

doggma disse...

Adoro Cabo do Medo, tanto o do Scorsese quanto o de 1962, com o Peck e o sempre perturbador Robert Mitchum. Filmaço(s).

Uma das coisas legais da versão '91 é que De Niro estava obcecado por A Hora do Pesadelo. E viu no Cady a mesma capacidade do Freddy de estar em todos os lugares. Não dava pra escapar. Ele achava isso aterrorizante e foi o que o convenceu a aceitar o papel.

Max Cady vive!

Abração!

doggma disse...

Aliás... tenho uma conta em algum lugar do Letterboxd. Na época, era uma dúzia de malucos e só entrava via convite. Vou ver se ainda existe.

Luwig Sá disse...

Confesso que já dei uma desanimada tbm no Letterboxd. Sem jeito, sou um bicho do Blogger mesmo. Sobre o Max do De Niro, sou tão anta que desconhecia completamente as versões anteriores de Cabo do Medo. Porém, nesse caso, tô que nem o Cypher: minha ignorância foi que nem um bife ao ponto.