Christopher Chance é um guarda-costas pouco ortodoxo criado por Len Wein e Carmine Infantino em Action Comics #419 (dezembro/1972). Basicamente, uma reformulação de um personagem com a mesma alcunha, Alvo Humano, surgido em Detective Comics #201 (novembro/1953). Não é exagero nenhum dizer que trata-se de um ilustre desconhecido, com um ou dois destaques: 1) a série Vertigo com Peter Milligan em 2003; e 2) a série live-action produzida pela Fox em 2010.
É o tipo de construto ideal para Tom King torcer e distorcer sem que um fandom aplicado torne-se uma pedra no seu sapato. Tudo o que você precisa saber sobre ele é dito logo no princípio da maxissérie em doze edições: Chris protege seus contratantes assumindo o aspecto deles através de disfarces. Normalmente, ao atrair as miras para si, os agressores, assassinos e/ou desafetos perdem o elemento surpresa e são detidos ou coisa pior. No enredo de King, ele presta seus serviços a Lex Luthor e acaba tomando o veneno que seria para o arqui-inimigo do Super-Homem.
Ao ser examinado pelo Dr. Meia-Noite, Chance descobre duas coisas: 1) que só tem doze dias de vida; e 2) que a substância pode ter sido manipulada por algum integrante da Liga da Justiça Internacional.
Mais que o trauma de ter testemunhado o assassinato do pai, Chris guarda consigo o rancor inusitado de tê-lo visto implorar por sua vida. E é justo o que ele não fará nos últimos dias que lhe restam. Ele vai morrer com dignidade e ir dessa para melhor, descobrindo quem lhe "matou". Então, basicamente, trata-se de uma história de detetive onde vemos o "morto" investigando o álibi e os eventuais motivos que o(s) suspeito(s) teria(m) para envenenar Luthor.
Quem acaba se tornando seu elo de ligação com os integrantes da LJI é a Gelo; o que o faz entrar constantemente em rota de colisão com Guy Gardner, o ciumento ex-namorado dela. Em algum momento, Tora Olafsdotter vira algo mais e fica difícil não comparar o visual do casal com os de George Clooney e Ana de Armas. Por sinal, Greg Smallwood tem tanto mérito quanto King no prêmio Will Eisner 2023 de melhor minissérie. Vou mais longe, a história se torna o que é por causa do artista.
Ponto controverso: alguns amigos levantaram a bola que o casting dessa Liga sofreu descaracterizações ao longo da trama. Sendo bem franco? Sei que o King peca por esse lado - e a ficha corrida dele tem antecedentes criminais como Heróis em Crise para corroborar com a acusação -, mas não vi nada de mais nas interpretações dele sobre Tora, Beatriz, Ted, Michael, Guy, G'Nort e Dmitri.
Na realidade, penso que o roteirista se aproximou mais da versão novelesca de Dan Jurgens do que propriamente da fase cômica de Keith Giffen, J.M. DeMatteis e Kevin Maguire. Por outro lado, ouvi comentários negativos sobre a "interação" de Jonn com a Fogo, como se aquela situação meio "sadomasoquista" já não tivesse sido explorada antes na reta final do run de Joe Kelly. Desconstrução? Talvez seja só questão de perspectiva ou uma maneira personalíssima que cada um enxerga aquela equipe.
Meus destaques: a história conjunta com o Besouro Azul, no qual vemos como Ted Kord concilia o cotidiano de super-herói e bilionário do ramo das big techs (nº 4); a sequência de treinamento em defesa psíquica ministrada por Satúrnia, que desemboca numa cena de jantar com o Caçador de Marte (nº 5); a sessão de interrogatório conduzida pelo Soviete Supremo (nº 8); e a perseguição do "Batman" que não estava lá (nº 9).
Aliás, essa última é uma das melhores da maxissérie. Se não for a melhor. Nela, Chris acha que está sendo caçado pelo Batman e tenta ficar alguns passos - e um ou dois socos - a frente dele. É o tipo de história que sinto falta de ler nos títulos regulares do morcego.
***
Links afiliados:
Putz, vou ter que subir esse umas posições na pilha. Smallwood é classe A, mas tinha certeza (in)fundada que, sendo do King, você ia mandar uma trauletada épica...
ResponderExcluirPs: chegou a assistir aquela série dele pela Fox? Vale a pena?
Mó prazer em dar trauletadas no Tonho, mas esse Alvo Humano é uma pintura... tanto de texto quanto de arte. Na verdade, das melhores coisas que li da DC em anos. Só acho bobagem um anual que meteram no meio das 12 edições, mas você finge que não leu.
ResponderExcluirSobre a série, cheguei a assistir os primeiros episódios, mas era tão procedural que não fazia qualquer diferença em ver o piloto ou o season finale.