Cena01: Por volta dos meus nove anos de idade, durante um bom tempo, eu e alguns amigos da rua, fomos aficionados por dois filmes que eram figurinhas tarimbadas na programação da Globo: Ninja III: A Dominação (Ninja III: The Domination, 1984) e Guerreiro Americano (American Ninja, 1985). O furor que o recém descoberto Ninjitsu tinha conosco era tamanho que chegamos a instalar uma “academia secreta dos ninjas paraibanos” numa instalação desativada da unidade da Sucam (Fundação Nacional de Saúde). O que fazíamos por lá? Ora, treinávamos com katanas/shurikens de plástico e líamos a Bíblia Ninja e manuais de kung fu.
Cena 02: Tenho quase certeza que o rock me descobriu [e não o contrário] a partir da trilha sonora internacional da novela Top Model, de 1989, com a faixa Stay do grupo Oingo Boingo. Na época, como tudo mais, afinal, eram tempos de hiperinflação, um LP custava uma pequena fortuna, mas fitas K-7 eram acessíveis e funcionavam como botes salva-vidas para pequenos falidos como eu. Bastava ficar de prontidão, ou melhor, de ouvidos na rádio, e “REC”. Coincidentemente, nesse mesmo ano, minha escola estava “revolucionando” o sistema de ensino brasileiro ao substituir a campainha do recreio por toques musicais, abrindo espaço para que os alunos levassem de casa suas próprias músicas via fitas K-7. Não era fácil, havia uma espécie de lista de espera e, ainda por cima, eles analisavam o que podia ou não tocar. No dia que minha Stay tocou, pensei mesmo que tudo iria mudar dali em diante.
Diferencial: Mais que um quadrinho maniqueísta, 20th Century Boys é uma narrativa bem construída que abusa de intertextos e metalinguagem, transitando livremente entre idas e vindas em linhas temporais que põem em movimento um vasto elenco de personagens maiores ou menores. Com efeito, tanto o texto quanto a arte de Urasawa não vão ao encontro de excessos e vícios histriônicos, tão habituais no percurso dos mangás; o que, geralmente, justifica minha ojeriza com uma parcela expressiva dos títulos publicados no Brasil. É igualmente digno de nota o trabalho de edição da Panini, mantendo glossários de termos nipônicos intraduzíveis e informações pontuais que só enriquecem a leitura.
Bob Lennon: Canção de Kenji Endo [ou Naoki Urasawa], que vira Hit pós-apocalíptico em 20th.
Em que pé estamos? No momento, foram publicadas vinte e duas edições [bimestrais] de vinte e quatro, sendo que as duas últimas se chamarão de 21th Century Boys. Um número suficientemente decente para investir numa maratona de leituras, e a tempo de ficar à espera do tão aguardado final. Por sinal, observem que tentei ser o mais vago possível aqui, afinal, quanto menos souberes a respeito do enredo de 20th, melhor para sua experiência de leitura.