Bloggers in Arms

terça-feira, 11 de junho de 2013

OS MORTOS NÃO SUPERAM

Não sei vocês, mas sempre que concluo algum run memorável, eu tenho enormes dificuldades de voltar àquele gibi. É como se, doravante, não quisesse arruinar a sensação de encerramento que cheguei com a história particular de um personagem. Então, diante desse sentimento, preciso dizer que foi dureza encarar novamente o Justiceiro após concluir a leitura da série Marvel Max escrita por Garth Ennis. Inclusive, passei um tempão internalizando que já me dava por satisfeito e não havia mais necessidade de ler qualquer coisa de Frank Castle.

É justo. Afinal de contas, aquelas sessenta edições – mais alguns especiais – foram um tour de force pelo coração sombrio do anti-herói e nada mais precisava ser dito. Literalmente. Por outro lado, a versão tradicional do Universo 616, volta e meia, mostra-se atraente justamente por ser um corpo estranho perto dos super-heróis da Casa das Ideias. Quem anda fora da linha, procura desesperadamente evitá-lo. Quem anda dentro dela, e faz com que outrem ande também, historicamente, reprova seus métodos extremos.

Não por acaso, a eterna dicotomia Justiceiro Vs. Universo Marvel foi também um dos temas trabalhados pelo escritor Greg Rucka em seu tour de 21 edições entre 2011 e 2012 (Punisher #1-16 e War Zone #1-5).

Egresso de uma passagem controversa e exponencialmente sobrenatural por Rick Remender, com entusiastas e detratores em partes iguais, como sempre, o Justiceiro ressurgiu nesse título com mais uma promessa de regressão ao básico. E, na minha ótica, é indo fundo, nas raízes, num nível primitivo mesmo, que o Frank funciona. Astutos que são, Rucka e o principal colaborador na empreitada, Marco Checchetto, fizeram ligação direta e deram um trato daqueles no velho Pontiac da Marvel.

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Partindo de uma premissa similar a que deu escopo a missão do vigilante, somos apresentados a Rachel Cole-Alves, Sargento da 1ª Companhia de Fuzileiros, veterana de duas temporadas no Afeganistão, que vê seu casamento ser repentinamente pego no fogo cruzado de um entrevero de máfias locais. Única sobrevivente da peleja, Rachel e os coadjuvantes – estabelecidos a partir do interesse da imprensa e a investigação da polícia nova-iorquina – passam a ser experimentos do roteirista dentro de um panorama autocontido com Frank como sua força motriz.

Contudo, engana-se quem pensa que essa é uma história padrão do Justiceiro. Pelo contrário, o Norte aqui são as transformações e o consequente engajamento da Sargento Cole-Alves na missão de Frank. O caminho dos dois se cruza e, curiosamente, é Rachel quem acaba auxiliando ao protagonista num momento em que se feriu gravemente; inclusive, quase perdendo um olho numa briga aérea - pra lá de visceral - contra o Abutre.

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Nesse contexto, quem já acompanha há alguns anos a trajetória de Rucka, tanto literária quanto nos quadrinhos, identificará de imediato vários aspectos familiares a suas narrativas, sobretudo o trato com o sexo oposto. Quer dizer, se ainda não notou, as sagas femininas têm sido o principal motor de propulsão de suas tramas; e delas nasceram personagens como Sasha Bordeaux (Xeque-Mate), Helena Bertinelli (Batman/Caçadora: Sede de Sangue), Kate Kane (Batwoman), Forever Carlyle (Lazarus), Andy (The Old Guard), Rowan Black (Black Magick) Drama (À Queima-Roupa), Carrie Stetko (Whiteout), Tara Chace (Queen & Country), Renee Montoya (Gotham Central).

Nos três últimos casos, a atuação delas se converteu em três premiações no Eisner Awards de 2000, 2002 e 2004; respectivamente como melhor minissérie (Whiteout: Ponto de Fusão, Devir), série nova (Queen & Country) e pelo arco Meia Vida (Gotham Central). Se há um ponto de contato entre essas séries, poderíamos dizer que Rucka escreve como um bodybuider dos mais sádicos, sempre em busca do walkabout perfeito.

No caso de Rachel, ela não é nenhum diamante bruto e muito menos requer uma transformação física. Na verdade, como militar treinada e condecorada, a soldado já tem expertise em matar, o que carece nela é a chama gélida que arde dentro de Frank e lhe dá propósito. Aquilo que faz dele algo puro e, acima de tudo, alheio a emoções mundanas. Não fossem as rusgas entre Rucka e a Marvel nos últimos instantes de War Zone, provavelmente seríamos testemunhas das primeiras fagulhas frias da “Justiceira”, dando prosseguimento a missão do mentor.

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A propósito, sobre os derradeiros momentos de Frank nesse gibi, é impossível não fazer paralelo com umas das melhores passagens da Guerra Civil de Mark Millar e Steve McNiven. Estou falando do momento em que ele intervém no conflito entre legalistas pró-registro e insurgentes anti-registro, e acaba inadvertidamente criando um flanco autônomo, no qual nenhum herói ou vilão é seu aliado. O mesmo decorre em War Zone, quando o Justiceiro é forçado a sair do anonimato e passa a ser perseguido pelos Vingadores.

Completamente distinto do perfil de ameaças que o supergrupo habitualmente combate, e muito embora tenha a desvantagem inédita de ser a caça, o nosso caçador está sempre a dois passos dos Vingadores e protagoniza sequências memoráveis, a exemplo da inesperada palestra motivacional de um Thor munido com um pack de cervejas, e os sucessivos trotes com Tony Stark, que reiteradamente o subestima e acaba, em mais de uma ocasião, tendo sua tecnologia furtada/hackeada.

Acuado pela força dos números e um (estranho) senso de honra hierárquica, a sequência em que Frank é capturado parece nos remeter a imagem de um animal ferido sendo imobilizado por domadores com dardos tranquilizantes. No final, aos próprios termos, a fera foi domada e jogada numa cela, à primeira vista, intransponível. Restava saber quem teria a audácia de destrancá-la novamente[1].

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Rucka estava visivelmente se divertindo, inclusive num nível militar, no qual "diversão" é um termo utilizado pelas forças armadas para denominar uma manobra falsa, desviando a atenção do inimigo do ponto que se queria atacar. O inimigo em questão foi a Marvel que não conseguiu enxergar um palmo diante do nariz e não se deu conta que tinha um belo quadrinho em construção.

No meu mundinho perfeito, Gregory Rucka teria passe livre para se divertir o tempo que quisesse com aquele velho Pontiac. 

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Saideira 💀: 

 

Achei um barato esse clipe feito por um leitor como tributo à fase Rucka.

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[1] Algo que, em tese, ficaria a cargo de Nathan Edmondson e Mitch Gerads, mas eles simplesmente ignoraram esse cárcere subaquático. O Justiceiro já reaparece em outro momento de sua vida, atuando na Costa Oeste dos Estados Unidos. Rachel chega a fazer uma breve aparição.